Controle de Qualidade no Recebimento: O Segredo para Rótulos e Etiquetas Sem Defeitos

Por Eudes Scarpeta*
Introdução
Como gestor industrial, sei que um dos pontos críticos para garantir a qualidade dos rótulos e etiquetas é a inspeção rigorosa dos materiais no ato do recebimento. Muitas vezes, problemas na impressão e conversão começam com a aquisição de insumos fora de especificação. Dessa forma, um controle eficiente reduz desperdícios, melhora a produtividade e assegura que a qualidade final do produto atenda às expectativas do cliente.
Neste artigo, vou abordar os principais insumos utilizados na produção de rótulos e etiquetas, os testes necessários para cada um e um passo a passo detalhado para verificação do teor de sólidos e rendimento das tintas.
Principais Insumos e Testes de Recebimento
Para manter o padrão de qualidade na produção, é fundamental realizar testes em diferentes insumos logo no recebimento. Abaixo, apresento uma tabela com os principais insumos e os testes recomendados para cada um:
Insumo | Testes de Recebimento | Critérios |
Substratos autoadesivos/filmes ou papel | Medir espessura e gramatura | Especificações das fichas técnicas do cliente e/ou pedido |
Tintas solvente/base água | Teor de sólidos, rendimento e cor | Teor de sólidos desejável: 60% Cor: Delta E ≤ 2 |
Tintas UV* | Verificação de cor | Delta E ≤ 2 |
Clichês flexográficos | Inspeção visual e conferência da gravação, espessura e dureza | Conferência com arte, prova digital e critérios internos, especificações do fabricante |
Anilox | Medir volume de célula (BCM) | Variações +/- 5% do volume nominal |
Dupla face, facas, tubetes e demais insumos | Verificação de metragem, espessuras, dimensões | Critérios internos pré estabelecidos e especificações do fornecedor |
O que é Teor de Sólidos e por que medir?
O teor de sólidos em tintas é um fator essencial para a qualidade da impressão, pois ele representa a quantidade real de pigmento, aditivos e resinas presentes na formulação depois que todo o solvente evapora. Uma tinta com alto teor de sólidos tende a ter melhor cobertura e maior rendimento, exigindo menos camadas para atingir a cor desejada. Por outro lado, tintas com baixo teor de sólidos contêm mais solventes ou água, o que pode resultar em menor opacidade e necessidade de aplicação em maior volume.
Exemplo Real de Economia com Teor de Sólidos Elevado
Considere duas tintas utilizadas na impressão de rótulos:
- Tinta A: Preço de R$ 50,00 por quilo, teor de sólidos de 40%.
- Tinta B: Preço de R$ 70,00 por quilo, teor de sólidos de 60%.
Se analisarmos apenas o preço por quilo, a Tinta A parece mais barata. No entanto, devido ao menor teor de sólidos, serão necessárias maior volume de tinta para atingir a mesma cobertura da Tinta B. Isso significa que, para cobrir a mesma área, pode ser necessário utilizar 1,5 quilos da Tinta A, totalizando um custo de R$ 75,00. Enquanto isso, com apenas 1 quilo da Tinta B, a cobertura é atingida com um custo final de R$ 70,00.
Ou seja, apesar de a Tinta B ter um preço inicial mais alto, seu rendimento superior reduz o desperdício e melhora a eficiência da produção, tornando-a a opção mais vantajosa a longo prazo. Isso sem falar na melhoria da impressão com menos tinta na superfície da retícula e utilização de anilox com BCM menor e lineaturas maiores que definirão melhor os pontos impressos sem entupimentos.
Para que serve o Teste de Rendimento (Corte com Branco)?
O teste de rendimento, também conhecido como corte com branco, é fundamental para avaliar a capacidade da tinta de cobrir um substrato com eficiência. Ele permite identificar se a tinta possui um bom poder de cobertura e se será necessário um consumo maior para alcançar a tonalidade desejada.
Quando realizamos o teste de rendimento, devemos observar:
- A intensidade da cor: Se a tinta exige uma grande quantidade de branco para atingir a tonalidade desejada, isso pode indicar baixa concentração de pigmento.
- A opacidade: Uma tinta de baixa opacidade exigirá mais camadas, o que aumenta o consumo e os custos de produção.
- A uniformidade da mistura: Se a tinta apresenta dificuldade em se misturar com o branco de forma homogênea, pode haver problemas de formulação.
Exemplo de Impacto no Custo
Imagine duas tintas de mesma cor e mesma quantidade de 1 quilo:
- Tinta X custa R$ 50 e necessita de uma proporção de 1:5 de branco para atingir o tom desejado.
- Tinta Y custa R$ 65 e necessita de apenas 1:2 de branco para atingir o mesmo tom.
Apesar da Tinta Y ter um custo maior por quilo, ela permite um corte menor com branco, reduzindo o volume total de tinta consumida. No final, o custo por metro quadrado impresso pode ser menor do que com a Tinta X.
Portanto, um bom controle no recebimento de tintas e a realização do teste de rendimento podem ajudar a reduzir custos de produção e evitar desperdícios.
Passo a Passo: Teste de Teor de Sólidos em Tintas Líquidas
O teor de sólidos é um dos parâmetros mais importantes para avaliar tintas, pois influencia diretamente no rendimento e na consistência da impressão.
Materiais Necessários:
- Balança de precisão (0,01g);
- Placa de Petri ou vidro de relojoeiro;
- Estufa ou chapa aquecida (100-110ºC);
- Tinta a ser testada;
- Espátula.
Procedimento:
- Pesar a placa de Petri vazia e anotar o peso (P1).
- Depositar uma pequena amostra de tinta na placa e pesar novamente (P2).
- Levar a amostra à estufa por 30 minutos a 100-110ºC.
- Retirar a amostra e deixar esfriar por 5 minutos.
- Pesar novamente (P3).
- Calcular o teor de sólidos pela fórmula:
Teor de sólidos(%)=(P2−P1)(P3−P1)×100
Onde:
- P1: Peso da placa de Petri vazia (ou do vidro de relojoeiro).
- P2: Peso da placa + tinta antes da secagem.
- P3: Peso da placa + tinta após a secagem (apenas os sólidos restantes).
O que essa fórmula significa?
Ela mede a proporção da tinta que realmente permanece no substrato após a evaporação dos solventes. Quanto maior o teor de sólidos, mais eficiente é a tinta, pois uma menor quantidade de solvente evapora, deixando uma maior concentração de pigmento e resinas na impressão.’
Exemplo prático:
Se uma tinta apresenta os seguintes pesos:
- P1 (placa vazia) = 50,00g
- P2 (placa + tinta antes da secagem) = 55,00g
- P3 (placa + tinta após secagem) = 52,00g
Aplicamos a fórmula:

Isso significa que essa tinta tem 40% de sólidos e 60% de solvente ou água.
Se o valor estiver fora do especificado pelo fornecedor, é necessário ajustar a formulação ou recusar o lote.
Teste de Avaliação de Cor no Recebimento de Tintas Flexográficas
A avaliação da cor é um dos testes mais importantes no recebimento de tintas flexográficas, pois pequenas variações podem comprometer a padronização do produto final. O método mais preciso para essa análise é o comparativo Delta E, que mede a diferença de cor entre a amostra recebida e um padrão previamente estabelecido.
Procedimento para Avaliação de Cor:
- Preparação da Amostra:
- Aplicar a tinta utilizando um extensor de 10 micra sobre um papel Leneta.
- Para melhor uniformidade, utilizar um Handproofer, que proporciona espalhamento homogêneo da tinta.
- Referência Padrão:
- Utilizar uma amostra de tinta padrão como referência.
- O padrão deve ser posicionado sempre à esquerda, enquanto a amostra recebida deve ficar à direita para facilitar a comparação visual.
- Medição do Delta E:
- Utilizar um colorímetro para comparar as cores e obter o valor do Delta E.
- Valores de Delta E ≤ 2 são geralmente aceitáveis, enquanto valores acima disso podem indicar diferenças perceptíveis a olho nu.
- Análise Visual Complementar:
- Observar a uniformidade da cor e a presença de variações indesejadas.
- Verificar se há diferenças perceptíveis sob diferentes iluminações.
Caso a amostra recebida apresente um Delta E acima do limite especificado, deve-se avaliar se a tinta pode ser corrigida internamente ou se o lote deve ser rejeitado e devolvido ao fornecedor.
Esse controle garante que a impressão final mantenha a fidelidade de cor exigida pelo cliente e evita desperdícios com ajustes posteriores no processo.
Conclusão
A inspeção dos materiais no recebimento é uma etapa crítica para a qualidade na impressão de rótulos e etiquetas. Um controle bem executado evita desperdício, reduz retrabalho e garante que cada insumo esteja dentro dos padrões exigidos. Como gestor industrial, reforço a importância de investir em processos de inspeção padronizados para assegurar a eficiência produtiva e a satisfação do cliente.
Com um controle de qualidade rigoroso no recebimento, toda a cadeia produtiva sai ganhando!
*Eudes Scarpeta é Mentor, Gestor e Especialista em Embalagens Flexíveis, Rótulos e Gestão Industrial. (11) 9-7544-8188